A ABNC realizou no dia 25 de novembro o 12º Encontro de Nozes e Castanhas. O evento reuniu especialistas, produtores e representantes do setor para discutir avanços, desafios e oportunidades que moldam o futuro dessa indústria em expansão. Em comum, todos destacaram o potencial econômico, ambiental e social desses cultivos, capazes de gerar renda, estimular pesquisa, fortalecer comunidades e posicionar o país de forma mais competitiva no cenário internacional.
A castanha-do-brasil aparece como um dos pilares da bioeconomia amazônica, unindo valor nutricional e importância ambiental. Ana Luiza Vergueiro, sócia-gerente da Econut e responsável por projetos na Fazenda Aruanã, em Itacoatiara (AM), avalia que o avanço do cultivo controlado inaugura uma nova fase para a espécie, historicamente dependente do extrativismo. Para ela, a domesticação oferece segurança genética, favorece a pesquisa científica e cria condições para ganhos de produtividade, ao mesmo tempo em que fortalece o caminho para a certificação orgânica e a recuperação da competitividade internacional. Ela lembra ainda que o alto teor de selênio mantém o produto em evidência globalmente e que a expansão da cadeia envolve reflorestamento e fortalecimento das comunidades amazônicas.
O caju, conforme destacou Dario Gramorelli, da ONG Amigos do Bem, representa muito mais do que uma atividade agrícola: é uma ferramenta de transformação social no sertão nordestino. A ONG atua há mais de três décadas em regiões de baixíssimo IDH, empregando e beneficiando famílias por meio do cultivo e processamento da castanha. De Lucca observa que o Brasil perdeu protagonismo global por falta de tecnologia, políticas públicas e competitividade, mas ressalta que ainda existe grande potencial de crescimento interno. Ele explica que a instituição mantém parcerias com universidades para melhor aproveitamento dos subprodutos e lembra que o mercado nacional segue sólido, com perspectivas de aumento de safra. Para ele, inovação e pesquisa são essenciais para resgatar valor e consolidar cadeias produtivas sustentáveis.
Entre as nozes, a pecã e a macadâmia reforçam o dinamismo do setor ao aliar sustentabilidade, valor nutricional e ampla aplicabilidade. A macadâmia, segundo Maria Teresa Egreja Camargo, diretora da QueenNut Macadamia, destaca-se pelo sabor delicado e pelo modelo produtivo sustentável, que tem garantido crescimento consistente no Brasil e no exterior. Ela lembra que, mesmo com a queda recente da safra e avanço da produção chinesa, o país mantém posição relevante no mercado global e tem priorizado o abastecimento interno. Além disso, a indústria brasileira tem incorporado a macadâmia como ingrediente premium em pães, chocolates, sorvetes e confeitaria.
A pecã, por sua vez, avança rapidamente no país. Claiton Wallauer, presidente da ABNC, do IBPECAN e diretor da Pecanita, afirma que a produção brasileira já coloca o país entre os cinco maiores produtores do mundo, podendo alcançar 7 mil toneladas em anos de clima favorável. Ele destaca que o Rio Grande do Sul concentra cerca de 85% da produção e que 80% dos produtores trabalham em pequenas propriedades, mostrando o peso da agricultura familiar. Segundo Wallauer, os cerca de 10 mil hectares plantados, muitos ainda em desenvolvimento, e o avanço das pesquisas conduzidas por Embrapa, Emater, universidades e governo estadual elevaram o nível tecnológico da cultura. Com isso, mercados como China e Europa já demonstram interesse crescente.
O baru também ganhou espaço no debate, simbolizando a força de uma cadeia emergente do Cerrado. Edson Cunha, da Baru Vida, relembra que, em 2014, a empresa participou do evento com apenas 500 quilos do produto. Hoje, o cultivo se consolida por meio de sistemas de integração e propriedades com dezenas de milhares de árvores. Após superar limitações técnicas e desenvolver equipamentos próprios, o setor já envolve cerca de cinco mil famílias. A safra de 2025 alcançou 100 toneladas processadas, e a projeção é chegar a 230 toneladas em 2027 e 300 toneladas em 2030. O marco decisivo foi a aprovação do baru como novel food na União Europeia, que abriu demanda imediata nos mercados europeu e norte-americano. Cunha também destaca o alto valor nutricional da semente, rica em proteínas, fibras e minerais, e o avanço no aproveitamento da polpa para produção de álcool e biocombustível.
O panorama discutido no 12º Encontro de Nozes e Castanhas da ABNC mostra que o país caminha para um novo patamar na produção desses frutos, impulsionado por ganhos tecnológicos, expansão de áreas cultivadas e maior organização das cadeias produtivas. A abertura de mercados, o avanço das pesquisas e a adoção de modelos sustentáveis fortalecem regiões inteiras, movimentam economias locais e ampliam a competitividade brasileira. Ao integrar inovação, valorização ambiental e geração de renda, o setor se posiciona como uma das frentes mais promissoras do agronegócio nacional. A perspectiva é de continuidade no crescimento, com produtos mais qualificados, mercados mais exigentes e produtores cada vez mais preparados para atender essa demanda. Com isso, o Brasil consolida as bases para ocupar um espaço relevante e duradouro no cenário internacional de nozes e castanhas.