Aumento de exportações de nuts e atração de investimentos é foco do Itamaraty, diz diplomata

Além da variedade de sabores, o mercado de nozes e castanhas nacional traz consigo a necessidade de estratégias que favoreçam os produtores atravessarem as fronteiras da nação. O tema foi discutido no 12º Encontro de Nozes e Castanhas, realizado no dia 25 de novembro, pela ABNC, em São Paulo.

Durante o segundo painel do evento, Carlos Henrique Moscardo, diplomata do Ministério das Relações Exteriores do Brasil; e Myriam Hammadi, oficial de desenvolvimento agrotecnológico da Business France, explicaram o que é fundamental para o engajamento em programas governamentais e a obtenção eficiente de auxílios. 

A princípio, Moscardo destacou que a atenção ao cenário mundial e às suas variações não se restringe apenas a movimentos geopolíticos, como o ressurgimento da competição entre potências e suas consequências tarifárias, mas também abrangem as mudanças climáticas que afetam a produção.

Como representante do governo brasileiro, Moscardo enfatizou que a atuação do diplomata (que envolve representar o país, informar sobre a realidade externa e negociar a favor dos interesses brasileiros) depende diretamente de informações fornecidas pelos setores representados. “Sem a existência de organizações como a ABNC, fica muito difícil obter, de forma eficiente, esses diferentes auxílios que nós podemos promover”, afirma.

Tal qual a observação dos mercados, a diplomacia envolve estabelecer metas, e Carlos Henrique Moscardo esclareceu que a sua é “aumentar significativamente as exportações e a atração de investimentos do Brasil”. O Itamaraty, através do Departamento de Promoção Comercial, Investimentos e Agricultura (DPR), atua em quatro vertentes principais: atração de investimentos, internacionalização de empresas, promoção da imagem do Brasil e dos produtos e serviços brasileiros. Moscardo prometeu uma integração completa e padronização dos serviços oferecidos pelo Itamaraty e pela Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos).

 

Proposta de Ação e Desafios do Setor

Moscardo conta que adotou o lema “cooperação com resultados” e propôs um foco na prática e em casos concretos, manifestando o desejo de discutir, em eventos futuros, iniciativas concretas e projetos-piloto para cada tipo de noz e castanha. O diplomata observou que a valorização do produto brasileiro muitas vezes segue um “efeito de endosso”,  onde o sucesso no mercado externo ajuda a criar ou consolidar o mercado interno.

Ao analisar os dados de exportação, ele notou um pico em 2021 e uma estagnação posterior no volume total exportado. Além disso, chamou a atenção a dependência do mercado dos Estados Unidos, e propôs um estudo minucioso para diversificar os mercados e sugeriu que o setor pense em um projeto piloto para superar a atual barreira no volume de exportação.

 

O Cenário de Importação de Nozes e Castanhas

Tratando ainda da presença de produtos brasileiros em território internacional, Myriam Hammadi, da Business France, escritório comercial da embaixada francesa, destaca a solidez das relações franco-brasileiras, que celebram 200 anos de diplomacia e possuem laços particularmente fortes no setor do agronegócio.

Apesar de o mercado francês ser o nono maior importador mundial de nozes e castanhas, o volume de comércio direto com o Brasil é relativamente limitado. A França importa muitas nozes do Brasil, mas exporta quase nada. As principais exportações brasileiras para a França concentram-se na castanha-de-caju (cerca de R$ 9 milhões em 2024) e na castanha-do-pará ou castanha-do-brasil (quase R$ 4 milhões em 2024). Este segmento está em forte crescimento, alinhado com o foco diplomático na Amazônia.

 

Oportunidades e Desafios para o Brasil

O mercado francês apresenta grandes oportunidades, impulsionadas por tendências de saúde e bem-estar, onde nozes e castanhas são vistas como “boas gorduras” (good fats) e se enquadram na crescente preocupação do consumidor em se cuidar “de dentro e de fora”. Há uma demanda por diversificação de produtos exóticos além dos já conhecidos, o que abre espaço para novidades como o baru.

O Brasil pode se posicionar de forma competitiva, atuando de maneira complementar a outros fornecedores globais, como EUA e Turquia, cuja produção sofre com a volatilidade climática.

Contudo, o consumidor francês é notoriamente exigente. Os principais desafios são:

  • Certificações: Forte cultura de selos de qualidade (Labelle Rouge) e crescente questionamento sobre o desmatamento.
  • Preço: O consumidor ainda considera o preço das nozes alto, exigindo um posicionamento competitivo.
  • Etiquetagem de Origem: Desde 2025, é obrigatória a indicação da origem para nozes, avelãs, amêndoas e pistaches, o que exige maior transparência.
  • Embalagem: O produto deve ser prático, com embalagens simples e que possam ser fechadas novamente para consumo em porções.

Um exemplo de sucesso é a Dengo, que se expandiu para Paris com o apoio da Business France e da Apex. A empresa de chocolates premium usa ingredientes como castanha-de-caju e macadâmia, demonstrando que a conquista do mercado francês pode ocorrer de forma derivada, através de produtos de alto valor agregado que despertam a curiosidade do consumidor pelas castanhas brasileiras.

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