O cultivo da noz-macadâmia tem se consolidado como uma alternativa rentável e sustentável no agronegócio brasileiro. Para entender melhor os avanços, desafios e perspectivas do setor, o Nuts conversou com José Eduardo Camargo, presidente da QueenNut Macadamia e presidente honorário da ABNC.
De acordo com Camargo, o setor vem passando por transformações importantes. “A seca recente gerou um encolhimento da produção, afetando diretamente a produtividade nas áreas agrícolas”, explicou. Outro ponto crítico é a dificuldade de mão de obra, que tem impulsionado o setor a investir em mecanização no campo e automação na indústria. Além disso, os produtores enfrentam obstáculos geopolíticos, como novas taxações que reduziram a competitividade do Brasil em mercados estratégicos, especialmente na Ásia.
Apesar dos desafios, a macadâmia encontra espaço crescente no mercado interno. Se há 30 anos praticamente toda a produção era exportada, hoje cerca de 50% permanece no Brasil. “Ela deixou de ser consumida apenas como snack. Agora está presente em pães, sorvetes, cookies, tabletes e até em cosméticos”, afirmou Camargo, destacando também as oportunidades de diversificação para pequenos produtores.
Do ponto de vista ambiental, o cultivo da macadâmia contribui para o sequestro de carbono e para a preservação da fauna, funcionando como uma forma de florestamento. O estado de São Paulo já reconhece a cultura como alternativa para compor a reserva legal das propriedades. Socialmente, a cultura também gera benefícios: pode sustentar pequenas propriedades e ainda permite o cultivo consorciado com café, milho ou soja.
Camargo lembra que a noz é também um alimento saudável, rico em ácido palmitólico, substância que ajuda a reduzir o colesterol. “Estamos falando de um alimento prático e funcional, que contribui para uma alimentação mais equilibrada.”
Com 37 anos de experiência no setor, o produtor afirma que segue aprendendo a cada safra, em contato com centros de pesquisa brasileiros e internacionais. Para Camargo, um maior investimento em pesquisas no Brasil, especialmente no desenvolvimento de novas variedades mais resistentes e no uso de bioinsumos, é essencial para que o setor possa continuar se desenvolvendo e impactando positivamente a sociobioeconomia.