O calor intenso e a falta de chuvas no Rio Grande do Sul têm colocado em risco a produção de noz-pecã, fruto que vem conquistando espaço tanto no mercado interno quanto nas exportações. Para o engenheiro agrônomo Júlio César Farias Medeiros, o segredo para atravessar períodos críticos está em conhecer profundamente o solo e planejar a irrigação de acordo com suas características.
A nogueira-pecã é uma frutífera perene que pode viver mais de 100 anos e exige condições específicas para expressar todo o seu potencial. Sua necessidade hídrica pode ultrapassar 500 litros de água por planta por dia. Além disso, a cobertura do solo é fundamental para conservar água, reduzir a erosão e manter a vida do pomar em equilíbrio. Sem um manejo adequado, os efeitos são claros: enchimento incompleto das amêndoas, frutos menores e queda na qualidade final. “Quando a água não chega na medida certa, a noz perde padrão e o produtor perde valor na comercialização”, explica Medeiros.
O tipo de solo determina diretamente como a cultura responde à irrigação. Em solos argilosos, há maior retenção de água, o que permite maior estabilidade; já em solos arenosos ou areno-argilosos, a irrigação precisa ser mais frequente para evitar o estresse hídrico. Solos mal drenados, por sua vez, comprometem o desenvolvimento das raízes e reduzem a capacidade da planta de absorver água e nutrientes. “É preciso entender o que o solo oferece e adaptar o sistema de irrigação a essa realidade. Caso contrário, os riscos de perda de produtividade e qualidade da noz-pecã são grandes”, destaca.
Para otimizar a produção, o especialista recomenda ferramentas simples, como os tensiômetros, que auxiliam no monitoramento da umidade do solo e ajudam a identificar o momento certo de irrigar. Além disso, práticas como cobertura do solo com plantas diversificadas — que conservam água, reduzem a erosão e favorecem a ciclagem de nutrientes — são fundamentais para manter o equilíbrio do ambiente. A adubação verde, a correção do solo antes do plantio e o manejo da sombra também fazem diferença no longo prazo.
O futuro da nogueira-pecã, segundo Medeiros, está diretamente ligado à adoção de tecnologias que tragam eficiência e sustentabilidade. Ele cita como exemplos o gotejamento subterrâneo, a microaspersão controlada, o uso de sensores de umidade, a automação via IoT e até drones e inteligência artificial para identificar áreas com estresse hídrico. “O produtor que combina conhecimento do solo com inovação em irrigação tem mais segurança para manter produtividade e entregar uma noz-pecã de excelência, mesmo em cenários de mudanças climáticas e escassez de água”, conclui.