Óleos nativos brasileiros mostram eficácia superior e atraem mercado internacional de cosméticos

Crédito: Divulgação/Charité – Universitätsmedizin Berlin

O aproveitamento de óleos e extratos de nozes e castanhas brasileiras na indústria cosmética vem ganhando nova relevância à medida que estudos aprofundam sua composição e desempenho funcional na pele e nos cabelos. Segundo o cosmetólogo Victor Hugo Pacagnelli Infante, farmacêutico-bioquímico com ênfase em cosméticos, comunicador científico e doutor em Ciências Farmacêuticas pela FCFRP-USP, com especialização internacional em skin imaging pela Charité – Universitätsmedizin Berlin, onde atua como pesquisador em fisiologia cutânea aplicada, esses ingredientes entregam resultados que vão além do que se entende como “natural”.

“As oleaginosas brasileiras têm combinações de ácidos graxos, fitoesteróis, vitamina E, fenólicos e antioxidantes que não encontram equivalentes diretos em muitos óleos importados”, explica. Ele destaca que a macadâmia é uma das poucas fontes vegetais ricas em ácido palmitoléico, altamente benéfico para peles maduras. “É um ácido graxo raro e especialmente interessante quando pensamos em regeneração, hidratação profunda e reforço da barreira.” Vale ressaltar que a macadâmia, embora não seja um produto nativo do Brasil, possui produção consolidada no país.

Outro diferencial citado por Victor é a castanha-do-pará, que apresenta esqualeno natural em concentrações superiores às encontradas em óleos mediterrâneos. “O esqualeno é um componente natural do sebo humano e tem ação emoliente e antioxidante muito eficaz, o que faz deste óleo um ativo valioso para formulações de skincare.” Já o óleo de baru, segundo ele, combina alto poder antioxidante com toque leve. “É um óleo nutritivo, mas com sensorial moderno, que não pesa, e isso tem um apelo enorme para produtos premium.”

Além do desempenho técnico, Victor ressalta a importância da biodiversidade e da cadeia produtiva. “Esses ingredientes carregam uma narrativa sustentável verdadeira, vinculada ao extrativismo responsável e à economia de comunidades locais. Mas precisamos cuidar para que isso não seja usado como marketing vazio, sem compromisso real, porque isso vira greenwashing.” Ele afirma que a rastreabilidade e o impacto social são fatores decisivos na aceitação internacional, uma vez que “marcas europeias e asiáticas querem ingredientes com história, ciência e responsabilidade.”

O processamento adequado é outro ponto essencial. “Cada óleo tem uma extração ideal, mas no geral a prensagem a frio preserva melhor os compostos bioativos”, diz. Ele alerta para os riscos de degradação. “Calor, luz e oxigênio são inimigos da estabilidade. Se o processamento não for cuidadoso, tocoferóis e ácidos graxos insaturados se perdem rapidamente.” Para o especialista, o mercado precisa avançar em padronização para “garantir baixa acidez, baixo teor de peróxidos e composição consistente entre lotes é fundamental para segurança e previsibilidade em formulações.”

Apesar do potencial, Victor considera que o Brasil ainda explora pouco esses ingredientes. “Faltam estudos clínicos robustos, comparações diretas com óleos globais e desenvolvimento de derivados tecnológicos como nanoemulsões e lipossomas. A indústria precisa investir mais em ciência para transformar esses ativos em protagonistas.” Ele acrescenta que há um espaço amplo na comunicação científica. “Temos ingredientes poderosos, mas ainda falamos pouco sobre eles no exterior. Marketing técnico e storytelling estruturado são essenciais.”

Sobre o mercado europeu, Victor confirma a tendência de crescimento. “A Europa está cada vez mais regulada e orientada por sustentabilidade, ESG e rastreabilidade. Existe, sim, um interesse real por ingredientes brasileiros.” No entanto, ele reforça que isso depende da maturidade da cadeia produtiva. “Não é só ter um bom óleo. É necessário ter documentação técnica, comprovação científica, certificações e estrutura de fornecimento. É a cadeia inteira.”

Para ele, o futuro das oleaginosas brasileiras na cosmética é promissor. “Temos ativos com potencial de liderança global. Se aliarmos ciência, tecnologia, sustentabilidade e comunicação, esses ingredientes podem atingir protagonismo semelhante ao de óleos já consolidados, como marula e argan. O Brasil tem tudo, biodiversidade, química única e história. Falta transformar isso em estratégia sólida e contínua”, conclui.

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