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Plantar árvores é combater a poluição

Paulo Hartung e José Carlos da Fonseca Jr.

 

Após quase uma década de tramitação, com audiências públicas e muita discussão, o Congresso aprovou o Projeto de Lei 1366/22, que corrige uma evidente distorção,  excluindo do rol de atividades poluidoras as árvores que são plantadas com finalidade industrial.

A agroindústria de base florestal estabeleceu-se como segmento de grande importância no Brasil e como referencial internacional. As fibras e os demais bioelementos que compõem as árvores sustentam uma ampla cadeia produtiva que nos proporciona bioprodutos de origem renovável, recicláveis e que substituem, com muitas vantagens, produtos de fontes fósseis.

Estamos falando não só dos mais óbvios, como celulose, diferentes tipos de papel, painéis e revestimentos, mas também de incontáveis novos usos na geração bioenergética, em aplicações na indústria têxtil, como a viscose, na farmacêutica, nos cosméticos e na alimentícia, dentre muitos outros segmentos.

Nem cabe aqui discorrer sobre os serviços ecossistêmicos que são prestados pelas árvores a partir da fotossíntese, que é a maneira mais eficaz de retirar carbono da atmosfera. Todos já sabem que as árvores são a forma mais eficiente de remover carbono e ajudar no combate à emergência climática.

Esses benefícios são multiplicados pela evolução do sistema de mosaicos na paisagem, um modelo de manejo florestal que associa e intercala áreas de plantio com florestas naturais que são preservadas ou restauradas — verdadeiros corredores de biodiversidade.

Na busca das melhores técnicas de melhoramento e de manejo, há décadas o setor investe em pesquisa e inovação, adotando práticas da chamada agricultura de precisão que levam em conta o microclima em cada local, o solo, o desenvolvimento dos melhores clones e a utilização mais eficiente de insumos. Como resultado, tem-se ganhos de produtividade, que permitem produzir mais usando menos recursos, inclusive água. O Brasil é hoje referência global em manejo e produtividade florestal.

Trata-se de uma indústria que planta, colhe e replanta árvores para fins industriais em 9,94 milhões de hectares — as empresas do setor plantam 1,8 milhão de árvores por dia.

Os plantios, nos últimos anos, têm sido realizados em áreas já antropizadas, que eram utilizadas previamente para cultivos vários, em geral substituindo pastos de baixa produtividade. Outro diferencial está no uso da terra: o setor preserva, em vegetação nativa, 6,73 milhões de hectares, uma área maior que o estado do Rio de Janeiro.

O setor de árvores plantadas no Brasil evoluiu, amadureceu e aprendeu, ao longo de décadas, o que realmente significa ser sustentável. É um setor que alia desenvolvimento ao cuidado com o meio ambiente e com as pessoas. Para demonstrar tal compromisso, as empresas do setor foram pioneiras na adesão voluntária, desde a década de 1990, aos mais rigorosos sistemas internacionais de certificação socioambiental, como FSC e PEFC. São cadeias com rastreabilidade há anos.

Além de produzir e preservar, essa indústria também gera riqueza e divisas ao Brasil. São 2,6 milhões de empregos diretos e indiretos. Foram aproximadamente R$ 65 bilhões em exportações em 2023, o que alçou o setor ao quinto lugar na balança comercial do agro brasileiro. Com uma carteira de novos investimentos que já ultrapassa R$ 90 bilhões até 2028, abre uma fábrica a cada ano e meio, na contramão da precoce e acelerado desindustrialização nacional. Por todas essas razões, era mesmo uma incongruência descabida a discriminação até agora imposta à silvicultura sem isonomia com outras culturas agrícolas, como milho, café, uva, cana, laranja, entre outros.

O país tem ativos ambientais notáveis, como a maior floresta tropical do mundo, cerca de 20% de toda a biodiversidade do planeta e 12% das reservas de água doce, além de carregar o potencial de se tornar uma verdadeira potência da bioeconomia. Desde que o Brasil faça urgentemente a sua lição de casa. É do nosso interesse o combate ao desmatamento.  O que não faltam são oportunidades e exemplos que podem nos colocar nessa rota.

Mais uma vez, o País se encontra em uma daquelas encruzilhadas em que pode tomar decisões que vão impulsionar a Nação para o futuro ou seguir de forma tacanha fechando oportunidades e dificultando o futuro das próximas gerações. Se soubermos transformar nossas vantagens comparativas em competitivas e valorizar as boas experiências, podemos oferecer ao mundo soluções para o desenvolvimento sustentável e oportunidades para brasileiros e brasileiras.

 

Economista, Presidente da Ibá (Indústria Brasileira de Árvores), foi Governador do estado do Espírito Santo.

Embaixador, presidente da Empapel e Relações Internacionais da Ibá.

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