Crédito: Everton Amaro/Fiesp
Na Fiesp, economista avaliou cenário global, elogiou a atuação do Banco Central e defendeu que ajuste fiscal priorize controle de despesas
Roberto Campos Neto, ex-presidente do Banco Central (BC) e atual vice-chairman do Nubank, afirmou, durante a reunião de encerramento dos trabalhos anuais do Conselho Superior de Economia (Cosec) da Fiesp, realizada na quarta-feira (10/12), que o mundo precisa de reformas econômicas do lado da oferta para elevar a produtividade, globalmente em queda. Segundo ele, o desafio se intensifica com o envelhecimento da população e o aumento da dívida pública no pós-pandemia, tornando essas reformas essenciais para o crescimento sustentável e a adaptação das economias.
Presidente do Cosec a partir de janeiro, Campos Neto destacou que a baixa produtividade é um problema mundial, “talvez com exceção dos Estados Unidos”, e que essa tendência dificulta o pagamento de dívidas e a capacidade dos países de reagirem a choques de demanda. Ele ressaltou que o mundo desenvolvido há muito tempo não implementa reformas estruturais relevantes, o que contribui para a estagnação produtiva. O envelhecimento populacional e o elevado endividamento público, na visão dele, agravam ainda mais a situação fiscal.
Para o economista, as reformas de oferta são fundamentais para enfrentar um cenário global mais complexo, com menor crescimento potencial e pressões demográficas — um contexto no qual o Brasil também precisa avançar. Ele defendeu que o ajuste fiscal deve priorizar o controle de despesas, e não se concentrar apenas no aumento de receitas. “Basear-se apenas no aumento de impostos gera consequências negativas, como queda no investimento, menor crescimento econômico e pressão inflacionária”, afirmou.
Sobre a taxação de grandes fortunas no Brasil, Campos Neto ponderou que, embora o tema seja visto como justo por muitos, “um excesso de taxação sobre o capital pode levar à redução da base de investimentos e de riqueza no país”. Neste caso, diz, a base do capital começa a encolher, o que, em tese, prejudica a economia a longo prazo.
Campos Neto também elogiou o Banco Central, destacando o trabalho da atual gestão de Gabriel Galípolo e defendendo a continuidade técnica na instituição. Disse ainda que “não faria nada diferente” e reforçou que a atuação independente do BC é crucial para o país, especialmente diante do cenário fiscal.
O economista afirmou que o Brasil precisa de um ambiente político e econômico reformista para sustentar e acompanhar o avanço de inovações financeiras como o Pix e o Open Finance. Ele lembrou que o país se tornou referência internacional nesses sistemas — o Pix já inspirou modelos em 17 países —, mas ressaltou que seu potencial máximo depende do avanço de reformas estruturais mais amplas.
“O Pix bateu um novo recorde na sexta-feira (5/12): foram registradas 313,3 milhões de transações em um único dia”, informou. O recorde anterior havia sido alcançado na Black Friday (28/11), quando o sistema movimentou 297,4 milhões de operações.
Campos Neto enfatizou que a prioridade devem ser reformas que ampliem o potencial de crescimento do PIB, como a tributária, e medidas que melhorem o ambiente de negócios. Para ele, a tecnologia abre caminho para maior eficiência, mas precisa estar apoiada em bases econômicas sólidas. Ao final, afirmou que “na nova ordem mundial, o Brasil está bem posicionado e precisa aproveitar esse momento”.
Em sua fala, o atual presidente do Cosec, Dan Ioschpe, destacou que o conselho existe para formular ideias, promover debates e subsidiar a Fiesp. “Muitas vezes não temos respostas tão precisas quanto gostaríamos, mas é fundamental que a Fiesp reflita de forma coordenada sobre os diferentes temas, para que nossos pleitos e posições sejam bem recebidos”, afirmou. “O debate qualificado é parte essencial da boa formulação de ideias que contribuam para o desenvolvimento socioeconômico do país e, naturalmente, da nossa indústria.”
Fonte: Portal Fiesp
Lúcia Rodrigues