Tarifas dos EUA sobre produtos chineses podem abrir novas oportunidades para o setor brasileiro de nozes e castanhas

As recentes movimentações do governo dos Estados Unidos em relação às tarifas aplicadas sobre produtos chineses têm reacendido debates sobre os impactos no comércio global e, especialmente, sobre as oportunidades que surgem para países como o Brasil. Em comunicado divulgado neste mês, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) ressaltou que o governo norte-americano decidiu manter as sobretaxas impostas durante a gestão Trump, reforçando a guerra comercial com a China e afetando diretamente o fluxo de exportações agrícolas para o território norte-americano.

No setor de nozes, castanhas e frutas secas, essa decisão pode significar uma abertura para o Brasil ampliar sua participação no mercado dos Estados Unidos. Segundo o Head de Acordos Internacionais e Gestão Tarifária do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Derex), da FIESP, Vinícius Neves dos Santos, a situação é volátil e desafiadora, mas o cenário atual mostra que o mundo está nivelado em uma tarifa de 10% para acessar o mercado americano — com exceção da China, que enfrenta uma sobretaxa superior a 140%, o que praticamente inviabiliza suas exportações nesse segmento.

Dados recentes de importação dos EUA mostram que, em 2024, o Brasil exportou mais de US$ 25 milhões em cocos, castanhas-do-pará e castanhas de caju (classificados na NCM 0801), além de US$ 2,9 milhões em outras nozes frescas ou secas (NCM 0802). O país também registrou exportações de frutas secas e congeladas em valores mais modestos. Já a China, embora ainda mantenha uma presença relevante em certas categorias como nozes diversas e frutas secas (US$ 49 milhões e US$ 32 milhões, respectivamente), viu suas exportações de castanhas frescas ou secas praticamente desaparecerem — com um valor irrisório de US$ 16 mil no NCM 0801 — reflexo direto das barreiras tarifárias.

Para Patrício Prado, vice-presidente da ABNC, o momento exige atenção estratégica. “Temos um cenário de disputa comercial no qual o Brasil pode se posicionar como alternativa viável, tanto pela qualidade do produto quanto pela estabilidade das relações comerciais com os EUA. Precisamos fortalecer nossa imagem no mercado internacional e aproveitar esse vácuo deixado pela China.”

Ainda que seja difícil projetar mudanças de curto prazo, a conjuntura mostra um caminho possível para ampliação das exportações brasileiras no setor. A ABNC segue acompanhando as movimentações com foco em orientar os produtores, promover a imagem dos produtos nacionais e estimular a abertura de novos canais de negociação com importadores norte-americanos.

Esse potencial de crescimento se insere em um contexto mais amplo do agronegócio brasileiro. O PIB do agro fechou 2024 com alta de 1,81%, alcançando R$ 2,72 trilhões, de acordo com estudo da CNA em parceria com o Cepea/Esalq/USP. A agroindústria cresceu 2,94% e os agrosserviços 3,25%, impulsionados, em especial, pela demanda no setor pecuário. Apesar das quedas observadas no ramo agrícola, influenciadas por preços mais baixos e diminuição da produção, os números reforçam a relevância do campo na economia nacional, com participação de 23,2% no PIB brasileiro.

A ABNC destaca que, diante desse cenário, o setor de nozes e castanhas pode se beneficiar não apenas da conjuntura internacional, mas também do fortalecimento do agro nacional como um todo. Com planejamento, apoio institucional e estratégias de marketing voltadas para diferenciação de produto, rastreabilidade e sustentabilidade, os produtores brasileiros têm potencial para consolidar presença no exigente e promissor mercado norte-americano.

A associação continuará monitorando os desdobramentos dessa política tarifária e prestando suporte técnico e institucional aos associados para que possam responder de maneira eficiente a essas novas oportunidades.

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